A CONAFER anunciou, em 9 de novembro de 2025, a abertura de uma sindicância interna para investigar todas as entidades filiadas que atuam com empréstimos consignados vinculados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A medida, formalizada por decreto publicado no Diário Oficial da União em 18 de outubro de 2025, surge como resposta direta ao maior escândalo da história da previdência brasileira — um esquema que desviou R$ 640 milhões dos bolsos de aposentados e pensionistas, com a CONAFER como principal entidade envolvida. A operação, batizada de Sem Descontos, foi desvendada pela Polícia Federal em 13 de novembro, e os números são arrepiantes: mais de 600 mil vítimas, R$ 708,2 milhões recebidos pela entidade e, desses, R$ 640 milhões desviados para empresas de fachada e contas ocultas. A CONAFER não só foi a campeã nos desvios, como serviu de porta de entrada para um sistema criminoso que operou por cinco anos, entre 2019 e 2024.
A Polícia Federal identificou três núcleos organizados como uma máquina de fraude: o político, o de comando e o financeiro. No centro de tudo estava Tiago Lopes, integrante do núcleo executivo, que tinha acesso direto ao sistema da Dataprev — a plataforma que gerencia os dados do INSS. Por meio dele, enviava listas fraudulentas com nomes de beneficiários que nunca autorizaram os descontos. Eles não só falsificavam assinaturas, como criavam contratos fictícios com associações que nem existiam. A operação dependia de apoio interno: segundo depoimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF), pagamentos indevidos a altos gestores do INSS eram essenciais para manter o esquema em funcionamento. Entre eles, Virgílio Antônio de Oliveira Filho, ex-procurador-chefe do órgão, que emitia pareceres jurídicos que dão aparência de legalidade a acordos fraudulentos.
Enquanto isso, Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da CONAFER, prestou depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. Ele nega envolvimento direto, mas o decreto de sindicância não poupa ninguém: todos os sindicatos, cooperativas e federações filiadas à entidade estão sob escrutínio. O prazo para concluir a investigação é rígido: 90 dias úteis, contados a partir da publicação do decreto. Se houver irregularidades, as entidades serão afastadas imediatamente — e os contratos rescindidos sem compensação.
As instituições financeiras que intermediaram os empréstimos consignados também estão no mirante. A CONAFER já começou a revisar contratos com PicPay, Crefisa, Banco do Brasil, BMG, Bradesco e Itaú. Não é que essas instituições tenham cometido fraude — ainda não foi comprovado — mas a entidade exige documentação completa de todas as operações realizadas entre 2019 e 2024. Se houver falhas, serão suspensas as parcerias. A pressão vem de cima: a Controladoria-Geral da União (CGU) estima que o total de fraudes em todo o sistema previdenciário pode chegar a R$ 6,3 bilhões. Isso significa que a CONAFER responde por quase 10% de todo o desvio registrado.
Sim. E isso é talvez o único alívio nesse cenário de caos. O prazo para contestar descontos indevidos foi prorrogado até 14 de fevereiro de 2026, três meses além do original. Até agora, 1,1 milhão de segurados já formalizaram contestações e estão aptos a receber o ressarcimento administrativo — com correção monetária e sem burocracia. O INSS, em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério da Previdência Social, a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público Federal (MPF) e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), criou um mecanismo inédito: o ressarcimento automático para quem contestou os descontos. Ninguém precisa ir a tribunal. O dinheiro volta direto para a conta.
"Esse é um compromisso do Governo Federal", afirmou Gilberto Waller, presidente do INSS. "Cada beneficiário que teve valores descontados indevidamente terá seu dinheiro de volta, corrigido, com segurança, agilidade e transparência. Ninguém vai ficar para trás." Junior Fideles, adjunto do advogado-geral da União, reforçou: "O elevado número de adesões demonstra o compromisso das instituições com os segurados. A solução foi construída de forma colaborativa, e já está funcionando."
Porque esse não é um caso isolado. É um sintoma de um sistema que, por anos, permitiu que entidades sem transparência, sem fiscalização e sem ética se aproveitassem da vulnerabilidade de idosos e trabalhadores rurais. A CONAFER foi criada para defender os pequenos agricultores. Em vez disso, tornou-se um canal de exploração. O que aconteceu aqui é o que pode acontecer em qualquer outra entidade que tenha acesso aos dados do INSS — e há centenas delas. A sindicância é um passo importante, mas não basta. O que os brasileiros querem é reforma estrutural: sistemas de autorização biométrica para consignados, auditoria contínua e punição exemplar para quem violar a lei. Sem isso, o próximo esquema já está sendo planejado.
Em 2026, a Polícia Federal deve encaminhar o inquérito ao Ministério Público Federal para denúncia criminal. Já há indícios suficientes para processar ao menos 15 pessoas, incluindo ex-gestores do INSS e executivos de empresas de crédito. A CONAFER deve apresentar seu relatório final em abril de 2026. Se a investigação apontar responsabilidade da diretoria, a entidade pode perder seu registro junto ao Ministério da Agricultura — e, com isso, seu acesso aos recursos públicos. Enquanto isso, os aposentados esperam. Alguns já receberam parte do valor. Outros, ainda não. Mas a promessa é clara: o dinheiro vai voltar. A pergunta que fica é: quem vai pagar pelo que foi roubado?
Se você recebeu um empréstimo consignado que não pediu, ou se viu descontos em seu extrato do INSS sem autorização, é provável que tenha sido vítima. Verifique seu extrato no app do INSS ou no site Meu INSS. Se houver cobranças de associações como CONAFER, PicPay ou Crefisa sem seu consentimento, entre em contato com a Defensoria Pública da União ou solicite contestação administrativa até 14 de fevereiro de 2026.
Se a sindicância interna confirmar que a diretoria da CONAFER participou ou tolerou as fraudes, a entidade pode ser cassada pelo Ministério da Agricultura. O Estatuto da CONAFER exige transparência e defesa dos agricultores — não exploração. A perda do registro significaria o fim do acesso a recursos públicos e subsídios, o que afetaria diretamente milhares de pequenos produtores que dependem desses programas.
A Polícia Federal estima que mais de 600 mil beneficiários tiveram descontos indevidos por meio da CONAFER entre 2019 e 2024. Mas, considerando todas as entidades envolvidas no esquema nacional, o número pode ultrapassar 1,5 milhão de pessoas. A maioria são idosos rurais, muitos com baixa escolaridade, que não sabiam que estavam assinando contratos que descontavam até 40% de seu benefício.
O sistema de consignado no INSS era baseado em confiança e burocracia lenta. As entidades enviavam listas de beneficiários e o INSS aceitava sem checar assinaturas ou consentimento real. A Dataprev, que gerencia os dados, não tinha mecanismos de autenticação biométrica até 2024. Além disso, pareceres jurídicos falsos, como os emitidos por Virgílio Oliveira Filho, davam aparência de legalidade. O sistema estava quebrado — e ninguém queria admitir.
O INSS já começou a implementar assinatura digital biométrica para todos os consignados, exigindo autenticação por reconhecimento facial ou impressão digital. Além disso, a CGU e o TCU estão criando um sistema de alerta em tempo real para operações suspeitas. A partir de 2026, qualquer entidade que enviar mais de 5% de descontos sem confirmação será suspensa automaticamente. A mudança é radical — e necessária.
A Polícia Federal já identificou 15 pessoas com indícios suficientes para denúncia, incluindo Tiago Lopes, ex-gestores do INSS e executivos de empresas de crédito. Carlos Roberto Ferreira Lopes ainda não foi indiciado, mas sua posição como presidente da CONAFER torna sua responsabilidade política e administrativa clara. O MPF deve apresentar a denúncia em abril de 2026, e os processos podem levar a penas de até 12 anos de prisão.