Desfile de 20 de Setembro ocorre no sábado em Porto Alegre
set 20, 2025
joice joicinha
por joice joicinha

Um sábado de memória e identidade em Porto Alegre

Porto Alegre se prepara para um sábado de ruas cheias, pilchas e bandeiras. O Desfile 20 de Setembro volta a mobilizar a capital gaúcha, celebrando a Tomada de Porto Alegre em 1835, um dos capítulos que marcaram o início da Revolução Farroupilha. A data, feriado estadual desde 1995, vai além do calendário cívico: virou ritual de identidade, com famílias inteiras acompanhando a passagem de cavalarianos, entidades tradicionalistas, bandas e escolas.

O 20 de setembro se conecta diretamente ao que aconteceu na véspera, 19 de setembro de 1835, na chamada Batalha da Ponte da Azenha. Na manhã seguinte, os rebeldes tomaram a cidade e acenderam a faísca de um conflito de dez anos. A partir dali, o Rio Grande do Sul entrou no centro de uma disputa política e econômica que envolvia impostos sobre o charque, autonomia regional e o desejo de modernização. A Revolução Farroupilha (1835–1845) projetou personagens como Bento Gonçalves e, mais adiante, Giuseppe Garibaldi, e chegou a declarar a República Rio-Grandense em 1836, deixando um legado que ainda molda símbolos, música e hábitos do Estado.

O desfile deste sábado preserva essa memória com uma linguagem que conversa com o presente. É comum ver as pilchas dividindo espaço com celulares e crianças no ombro do pai, CTGs desfilando coreografias ensaiadas, carros temáticos contando passagens históricas e pelotões civis e militares exibindo bandas marciais. A cadência dos tambores, o cheiro de churrasco vindo de fogões de campanha e o chimarrão que passa de mão em mão costuram tradição e cotidiano.

O ato cívico também é aula de história a céu aberto. Professores costumam aproveitar o desfile para discutir com os alunos o que, afinal, foi a Revolução Farroupilha — onde termina o mito e começa o fato. A guerra não foi um bloco homogêneo de ideias românticas: teve negociações, recuos, disputas internas e, no fim, um acordo. Esse olhar mais completo ajuda a entender por que a data segue viva: não é saudade de um passado idealizado, é debate constante sobre autonomia, cultura e pertencimento.

Setembro, em Porto Alegre, virou um grande palco. A cidade vem experimentando um renascimento cultural nos últimos anos, e a Semana Farroupilha funciona como vitrine. O Acampamento Farroupilha, no parque que tradicionalmente abriga piquetes e galpões, reúne oficinas para iniciantes na gaita, apresentações de danças, rodas de trova e gastronomia campeira. Quem é de fora estranha o ritmo no começo, mas entende rápido a lógica do encontro: comer, ouvir, aprender e conviver.

O calendário da cidade neste mês se espalha por praças e centros culturais com shows nativistas, saraus e exposições que cruzam o passado com a produção contemporânea. A circulação de público cresce, movimenta restaurantes, lota hospedagens e puxa pequenos negócios — do artesão que vende cuias personalizadas ao estúdio que oferece fotos em trajes típicos. Não é só sentimento: a economia gira junto com a cultura.

Para quem pretende acompanhar a passagem dos grupos, vale se organizar. A Prefeitura costuma divulgar, com antecedência, o traçado final do desfile, pontos de bloqueio e áreas de acesso ao público. Empresas de trânsito e segurança costumam montar esquema especial para a manhã e o começo da tarde, reforçando transporte coletivo e sinalização. O recado é básico, mas resolve: sair mais cedo, checar a previsão do tempo e priorizar ônibus ou aplicativos de carona compartilhada. Num evento popular, a experiência melhora quando a logística é simples.

Há, ainda, um aspecto de cuidado que todo mundo consegue cumprir. Se o sol aparecer, protetor e água são indispensáveis. Roupas e calçados confortáveis ajudam a encarar as horas em pé. Se houver cavalaria, manter distância segura e não oferecer comida aos animais evita sustos. E, claro, recolher o próprio lixo e respeitar as áreas reservadas a idosos e pessoas com deficiência fazem parte do básico para qualquer festa de rua dar certo.

O interesse internacional por setembro em Porto Alegre cresceu. Vizinhos do Uruguai e da Argentina — países com os quais o Rio Grande do Sul compartilha fronteiras e traços culturais — se reconhecem nas milongas, nas harmonias das canções e no mate, que muda de nome, mas não de essência. Nos últimos anos, também chegaram mais turistas de outros estados do Brasil, curiosos com a estética gaúcha e com a cena musical local, que mistura tradição e guitarras elétricas sem cerimônia.

O desfile, claro, não vive só de lembranças do século XIX. Entidades jovens e coletivos culturais novos têm reivindicado espaço para falar de temas atuais: preservação ambiental no pampa, a presença das mulheres nas lideranças dos CTGs, o papel dos povos indígenas e das comunidades negras na formação do Rio Grande do Sul. Quando essas pautas aparecem no asfalto, a festa ganha camadas — e fica mais próxima da cidade real.

Outro sinal dos tempos é a digitalização do evento. Transmissões ao vivo costumam alcançar quem não pode ir ao local, e as redes sociais viram linha do tempo paralela, com trechos da apresentação, bastidores e reações do público. Para quem prefere ficar em casa, essa é uma maneira prática de acompanhar. Para quem vai às ruas, é um álbum coletivo que se monta em tempo real.

No campo simbólico, o 20 de setembro segue sendo um marcador forte. A bandeira do Rio Grande do Sul, com suas cores de independência e união, é onipresente. O hino ecoa em coro. Mas quem observa com atenção percebe que a data também opera como um rito de passagem para a primavera: um abre-portas para a temporada de eventos a céu aberto no Guaíba, feiras gastronômicas e festivais de música que tomam conta da cidade até o fim do ano.

Quer aproveitar melhor? Planeje um roteiro que inclua o desfile e uma passada pelos galpões de piquetes, onde se aprende desde como cuidar da cuia até o passo a passo da dança do pezinho. Se a ideia é levar crianças, existem apresentações pensadas para elas, com contação de histórias e brincadeiras. Para quem chega de fora, vale reservar antes restaurantes campeiros, porque a procura aumenta nos fins de semana de setembro.

É assim, com chão batido por botas e cavaleiros, que Porto Alegre reafirma sua identidade sem fechar portas para o novo. A cidade celebra o que a formou e, ao mesmo tempo, se abre para leituras atuais, mais plurais e atentas. Se o 20 de setembro nasceu de um conflito, o desfile que ele inspira hoje promove encontro — e isso explica por que tanta gente volta, ano após ano, para ver a mesma cena com olhos diferentes.

Serviço e orientações ao público

Serviço e orientações ao público

Programação oficial: a organização divulga horários, ordem dos grupos e trajetos nos canais institucionais. É bom conferir no dia anterior.

  • Transporte: priorize ônibus e lotações; combine caronas; verifique alterações de linhas durante o evento.
  • Acesso: chegue cedo para conseguir bom ponto de visualização; respeite áreas reservadas.
  • Tempo: leve água, protetor solar, boné e uma capa de chuva leve — setembro costuma ser imprevisível.
  • Convivência: mantenha distância de animais, não bloqueie passagens e descarte o lixo nos pontos corretos.
  • Segurança: siga orientações de agentes no local e identifique crianças com nome e contato de responsáveis.

Com essas medidas simples, o desfile rende boas memórias e reforça o que move a data desde 1835: pertencimento, coragem e uma vontade insistente de celebrar o Rio Grande do Sul em sua pluralidade.